Passando sempre por onde um dia houve uma grande passarela de ferro, havia ainda a estranha sensação que ela ainda estava lá. Enfiava-se embaixo dos lençóis junto a alguém que há anos dividia por um instante o mesmo espaço no universo, apesar de sempre se sentir daquela forma como se fosse à primeira vez. Sussurrava eroticamente nos ouvidos dele a doce sensação, que aumentava com os abraços, beijos e o suor cada vez mais presente. A doce sensação de ser a primeira vez culminava com a intimidade de anos. Um dia se perguntou o porquê de tantas pessoas cultivarem o prazer de ter embaixo das próprias asas, animais enjaulados, servindo ali como enfeite ou sendo singularmente um objeto de decoração, ela mesma já havia feito tal coisa, não a amaldiçoou por isso, muito menos quem o faz, mas descobriu a graça de tê-los por perto quando eles mesmos quiserem, dando a liberdade da escolha de passar ali o tempo necessário.
Debruçava-se diante da pia constantemente, a água que jogava em seu rosto servia como um refresco para as idéias e não só para a pele suada. O tempo ali era uma pausa disfarçada, ninguém em volta percebia, mas o real desejo era voltar a se posicionar corretamente. Lembrava vagamente das muitas idas ao centro da cidade, buscava quase que repetidamente as mesma coisas, nos mesmos lugares, era normal sair feliz com a compra de uma camisa que um dia ela chegou a detestar, assim como se irritava em ver outro alguém adquirindo uma que ela já tinha pose.
O sonho mais repetido era o que ela menos conseguia se lembrar e a mania de jogar o cabelo por trás da orelha era algo que ela queria dar por fim. Deixou de se esconder de fotos em eventos depois que percebeu que nas poucas que saia, estava sempre de maneira cômica, para não se dizer desastrosa. Parou um dia e entendeu que a vida era a mais das fiéis amiga, tinha sido sempre muito generosa com ela e agradeceu em voz baixinha por isso. Descobriu também que lembranças também podem ser vividas e contadas de forma aleatória.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
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