domingo, 23 de novembro de 2025

Tempo Rei

 Esse texto é sobre algo que eu não tinha pensado em colocar no papel: a sensação e a emoção do show do Gil em Fortaleza. Hoje, ainda pensando na apresentação, senti vontade de registrar o que vivi ali.


A importância de Gil para tantas pessoas sempre me chamou atenção, especialmente pelo fato de ele representar inspiração, mudança e até disciplina na vida de muita gente. É muito bom ter alguém para admirar, respeitar e usar como referência — não pelo medo, mas por um tipo de respeito que se sente de longe. Nos dias que antecederam o show, li muitos comentários elogiando a apresentação: a forma como é conduzida, a sequência, a vitalidade dele. E realmente, a vitalidade de Gil é algo admirável. Ele parece curtir o momento como se fosse a primeira vez… ou a última.



Não sou um profundo conhecedor da obra dele. Lembro de ter parado para ouvir Kaya N’Gan Daya e a trilha de Eu, Tu, Eles. No geral, conheço o que sempre tocou nas rádios. E ali, quando surgiram músicas que eu não conhecia, não houve cansaço algum, pelo contrário. Foi bom ouvir aquela novidade que poderia ter vindo da praia, da serra ou da cidade. A cabeça de Gil passeia por tudo. A variedade das letras e melodias desperta só coisas boas. Em certo momento, ele comentou sobre as várias gerações presentes na plateia, famílias que dificilmente se encontram juntas em um mesmo show. 

O público estava em sintonia, sem empurra-empurra, com uma educação exemplar - quase um reflexo das letras de Gil. Ele pensa muito, pensa longe, e comunica de forma clara e única. Fiquei (e ainda estou) admirado com tudo. Esse foi o terceiro show dele que vejo: o primeiro em um festival e o segundo no Trinca de Ases. No Trinca, o respeito era algo que dava para sentir de longe.



Revisitando tudo isso, percebo que essa boa sensação de estar diante do trabalho de alguém que te faz bem é algo raro e especial. Há momentos em que se está ali apenas absorvendo, como quem assiste não só a um show, mas a alguém que conseguiu atravessar gerações carregando significado, inteligência e sensibilidade. E é esse tipo de experiência que dá vontade de registrar.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Avião no ar

Hoje à tarde vi um avião no ar. 
Onde moro não é comum passarem aviões. Observei-o passando, cortando o céu azul e deixando uma linha branca de fumaça pelo caminho. Ali estão algumas dezenas de pessoas, dezenas de destinos, alguns cheios de alegria por estarem indo ao encontro de alguém ou a algum lugar, outros tantos com as bagagens carregadas de boas lembranças voltando para casa. Elas estão sendo carregadas a 800 km por hora. Quem está lá em cima nem percebe isso, muito menos se alguém a 10 mil metros abaixo está parado olhando para cima tentando visualizar os tantos rostos naquela pequena multidão. 

Para mim, dois momentos são cruciais no trajeto: pouso e decolagem.
Quando o avião enfim chega ao voo de cruzeiro, e a sensação de algo destampando o ouvido chega junto com vários sons de cintos de segurança se soltando, é um momento de tranquilidade dentro da viagem. No pouso ou na decolagem não tem isso. O que se tem é aquele pensamento de pedir para a aeronave ir mais rápido o possível ou que os freios funcionem de forma correta. Acredito que esse sentimento é de quase 100% dos passageiros, mas claro que tem aqueles que não se incomodam com nada, como aquelas pessoas que fazem tatuagem e conseguem dormir durante a sessão. Eu invejo quem consegue dormir durante toda a viagem. Eu não consigo, tem sempre algo me incomodando. Os campeões nesse assunto são: turbulência e poltrona. 
Após alguns voos, a turbulência me incomoda um pouco menos. Costumo olhar para a tripulação quando o avião começa a passar por "cima dos buracos", fui percebendo que eles seguiam o trabalho de distribuir o lanche, por exemplo, da mesma forma que estavam antes da turbulência, então aquilo definitivamente é normal. Já a poltrona... bem, a poltrona não tem jeito. 

Um livro costuma ser o meu companheiro de viagem - até porque minha principal parceira costuma sempre estar dormindo. A história no livro me leva para outra viagem, para outro lugar antes mesmo do pouso.
Quando estou lá em cima, olho para o solo. Consigo ver serras, mar e casas. Pessoas, definitivamente, não as vejo.

Turista

"Moro onde você passa férias" — ok, tudo bem, mas aí surge a pergunta: você usufrui disso? Aproveita o local que vive ou já transformou o dia a dia de obrigações em repetições? 
Percebe a bela vista da praia no trajeto até a lotérica quando vai pagar as contas que vencem no dia 5? Aproveita a volta para casa durante o pôr do sol para caminhar à beira-mar ou vai direto para o sofá de casa? Registra com fotos/vídeos um belo dia de sol com vento forte ou só se surpreende com a cidade quando alguém de fora a valoriza com belas filmagens? 

O local das férias está disponível a qualquer dia, a qualquer hora. Você mora nele. Mora onde muitos sonham em estar, mas por que ele não é bom o bastante para você? A convivência, o dia a dia, o tal leão que temos que matar todos os dias para seguir adiante transformam o lugar, acinzentam os muros e flores, mesmo que eles estejam em cores vivas e diversas. 
Os horários das obrigações são uma realidade para moradores do paraíso. Acredite. 

Se baseando no que disse até aqui, de onde raios surgiu a expressão "Moro onde você passa férias"? Já que o morador do paraíso não aproveita o local? 
A resposta é simples: o turista! 
A pessoa que vem de fora mostra aos nativos a face da cidade que está esquecida/abandonada/borrada por muitos dali. Nem tudo é cronometrado, as cores estão lá e combinam perfeitamente com o céu, sol e mar. As residências se mostram belas, muitas delas com padrões históricos (e não velhos/abandonados). As ruas curtas e sem trânsito são um encanto para quem já viveu em quilômetros de engarrafamentos... todos os dias. 
No local das férias, tudo está próximo e de fácil acesso — apesar de a palavra "tudo" nessa situação ser ilustrativa, até porque faltam muitas coisas, porém, no pesar da balança, percebe-se que são coisas dispensáveis. 

O local onde você passa férias está sempre com os braços abertos à sua espera. Volte sempre.

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Dupla dinâmica

Entre uma tarefa e outra, me jogo dentro da música que preenche o ambiente e passo a vivê-la, e não apenas ouvi-la. “Se o gênio me perguntasse quais seriam meus três desejos, o primeiro seria voltar no tempo para te ver aos 16 anos.” Percebi que sim, seria um bom pedido, desde que eu enxergasse com meus olhos, mente e corpo da mesma época.
A música seguiu, e eu fiquei a pensar naquilo. Então me toquei que talvez eu tivesse sido “egoísta” em me incluir no desejo de ser mais jovem… mas deixa eu parar de falar sobre isso, pois o texto não é sobre uma dupla que se conheceu na adolescência. Na verdade, é sobre como é bom o fato de ter alguém ao lado.
Percebi que, em diversos projetos meus, alguém (em alguns casos, mais de uma pessoa) esteve ao meu lado, ajudando, cooperando, alertando, me ensinando, me mostrando que posso, e que aquilo faz sentido. Tenho um punhado de exemplos, todos com carga de importância enorme dentro de minha linha do tempo. Várias conversas que tiveram um “pois bora fazer” se transformaram em algo que ocupa ou ocupou meu dia a dia. Me fazem (e fizeram) muito bem, até porque tudo o que foi criado era sobre algo que gosto de acompanhar. São mundos que compõem meu universo particular e que, de alguma forma, foram compartilhados com alguém que também vive naquele lugar.
Gosto de tudo o que foi produzido e, às vezes, visito ou revejo os projetos - e aqui a bolha vai de textos literários a página de humor, da música a página de divulgação. Alguns pararam com o tempo, outros seguem na ativa. Rever os que estão em pausa me faz bem, todos eles me transportam para eras diferentes. 

Faria tudo novamente, escolheria as mesmas pessoas para formar a dupla, e, com certeza, usaria o pedido do gênio para me encontrar com minha parceira preferida/ideal aos 16 anos de novo.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Black Circle

 Gosto de música, se duvidar é meu passatempo cultural preferido. Há quem goste de gastar o tempo assistindo filmes ou lendo livros, por exemplo. Eu me pego sempre ouvindo música. Pra mim uma sequência musical costuma erguer paredes onde são exibidas histórias fascinantes, perfeitas para serem contadas (ou simplesmente visualizadas na mente).


Música também é máquina do tempo, sem dúvida. Talvez seja a maior graça, de tantas que ela proporciona.
Há dois dias vivi um pouco disso, percorri diversas épocas de minha vida, situações, revivi locais e pessoas (e por uma felicidade enorme, algumas delas estavam comigo presencialmente)

Sábado fui a uma apresentação de uma banda cover do Pearl Jam que está percorrendo o país com uma apresentação que conta com uma orquestra sinfônica. Instrumentos clássicos e elétricos na mesma sintonia, na mesma sinfonia. Ao meu lado Paulo Cabeça, que lá pelo fim de 91 ou início de 92 me emprestou o primeiro disco do Pearl Jam. Em tempos em que não existiam ‘streaming’ de música, foi meu parceiro em encontros musicais. Sentávamos e ficávamos ouvindo o que um ou outro tinha a mostrar. O Pearl Jam também nos fez se encontrar em outras capitais, durante os seus shows.

Também estava comigo a Adelana, óbvio, que surgiu em minha vida na mesma época do Paulo, e foi das mãos dela que recebi o disco do Pearl Jam que foi decisivo para que eu virasse fã. Isso lá pelas bandas de 96. Discos diferentes, pessoas diferentes, porém definitivos.

No palco a banda que provavelmente foi a que mais acompanhei as ‘lives’ durante a pandemia. De alguma forma foi uma ajuda durante uma época de incertezas.

E claro, sem esquecer do Camelo, que nos encontramos por causa do Pearl Jam (assim como tantos outros espalhados pelo país), e que desde então me acompanha em viagens curtas e longas.


A música é isso e muito mais.
Sim.

P.s; nunca devolvi o cd que peguei emprestado com o Paulo 0_0

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