quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O Canalha

Ajeitou-se no banco do carro e puxou a armação do seu ray-ban para baixo quando avistou – ao seu lado – o belo par de pernas que inquietos, balançavam sem parar. “De onde saiu esse monumento?” – ele pensava enquanto ajeitava seu braço na porta do carro e os olhos já faziam todo o percurso que suas mãos, tronco e boca desejavam fazer. Do lado da placa da parada de ônibus, uma garota, na faixa dos 24 anos, grandes cabelos negros, amarrados ainda molhados que faziam o vestido, estampado com grandes rosas amarelas, ficar mais colado na altura da cintura. Sandália com um pequeno salto, mas que eram suficientes para deixar as costas das pernas mais belas e as nádegas mais provocantes. Nem de longe ela se parecia com uma qualquer, apesar de todo a sexualidade que deixava transpirar. O rosto angelical nem se mexia quando – praticamente – todos os motoristas se contorciam em seus carros para olhar pra ela quando passavam na avenida e buzinavam iguaizinhos a um coiote em filme infantil. Em seus braços, cruzados em seu peito, relaxavam seus cadernos. Logo ele olhou o relógio, “21:20” – ele leu os ponteiros – “Pra aula ela não deve estar indo e por aqui não tem colégio. O que essa mulher tava fazendo? Que mulher!” os pensamentos dele estavam embriagados pela cólera, pensou em ir até ela, estava apenas a alguns passos, mas logo se lembrou que sua mulher estava pra chegar – “Que saco!” – virava o rosto incansavelmente para frente e para trás, vigiando o momento que a esposa chegasse. Censurava os motoristas cada vez que o semáforo, há uns 200 metros, abria caminho aos carros que passavam e buzinavam quando cruzavam com a garota. “Que garota! Ainda bem que o ônibus não vem. Eu vou lá e é agora” – ele estava decidido – abriu a porta do carro, saiu e ajeitou a camisa e começou a pentear o cabelo com seus dedos, tirou o foco da garota e virou-se para procurar a esposa e levou um baita susto quando ela já estava do seu lado – “que susto você me deu” – ele falou de supetão – “está fazendo algo errado para ficar se assustando?” – a esposa respondeu irônica, mas logo o sorriu e ao mesmo tempo fez uma cara curiosa olhando por cima do ombro dele – “o que foi?” – ele perguntou já se virando para a garota, nesse momento ele sentiu que a noite a frente seria regada a discussões por causa das belas pernas e cintura grudada em rosas amarelas. Ele logo visualizou o roteiro: “quis esperar no carro para ficar vendo essa aí, ne?”, mas se surpreendeu com um sorriso se transformando no rosto dela. – “Olha a Camila ali” – a esposa dele disse apontando e já se encaminhado e o puxando em direção ao monumento em carne e osso.
“Camila, tudo bem?” – a esposa do canalha falou com a garota – “Vânia, mulher, é você?” – Camila alegremente reconheceu a amiga dos tempos de primário – “Quanto tempo, hein, o que você esta fazendo?” – ela fez a pergunta mais usada em todo o planeta quando duas pessoas se reencontram depois de um bom tempo – “trabalhando, trabalhando e trabalhando. Ah e me casei, olha aqui o maridão” – Vânia saltitava com o encontro inesperado e pelo jeito, o canalha também. “oi, tudo bem?” – Camila, já com os livros apoiados em um braço só, esticou o outro para apertar a mão do marido da amiga enquanto lhe emprestava um sorriso de orelha a orelha – “tudo ótimo” – ele respondeu como se estivesse sendo apresentado a alguma garota em uma festa de azaração. “Bom, lá vem meu ônibus, tenho que ir nesse se não vou esperar mais um mundo até o próximo, legal te ver. até mais” – Camila se despediu da amiga já se virando apressada para a entrada do coletivo.
“Ela está ótima, está do mesmo jeito quando fazíamos o colegial juntas” – Vânia disse ao canalha já dentro do carro – “às vezes não entendo o seu gosto, a garota é estranha” – o canalha respondeu – ela soltou um riso e disse enfim: “ ‘Estranha’? você sempre diz isso quando quer chamar uma mulher de feia! Eu te conheço”. O Canalha apertou a mão no volante, olhou para a mulher e disse ironicamente: “os meus olhos só conseguem enxergar beleza em você meu amor”




Texto escrito originalmente no Pausa para o Glamour, colado aqui apenas para aumentar o Sanduíche

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