Enfim sós. Como há muito tempo não estavam. O lugar não era o mesmo de antigamente, mas isso nem importava, o que valia realmente eram as quatro paredes os separando do mundo. Estranho, mas apesar de tudo que já haviam passados juntos, a imagem que ele sempre tinha dela era a das mais porcas, quando a viu agachada a jogar tudo o que havia consumido durante a noite, jogando também um fedor absurdo. Comida misturado à bebida barata. Os olhos caídos, a parte da roupa no chão e a que ainda a cobria totalmente molhada, suja. A lembrança não era só essa... haviam também os dois sentados, em meio a todos que estavam em pé, e apesar da barreira humana, apesar daquelas pernas inquietas, dava sim para enxergar o horizonte, mesmo que escuro.
A pergunta que surgiu nela quando estavam mais uma vez juntos foi: ‘e se naquela ocasião ele tivesse se entregado também?’ – a vista já não estava boa, quando se recorda daquela noite não a visualiza totalmente em cores perfeitas, há sempre uma mancha, um esquecimento, algo que se perdeu ou que nunca existiu em sua memória. Ela apenas sabe que se jogou, ultrapassou o medo ainda infantil que a acorrentava, e ele, que vivia a cem por hora, querendo viver perigosamente em roletas russas, enfim parou ao ver o sinal vermelho, bem antes da faixa de pedestres. A pergunta a martelava! Martelava! O que teria sido de nós? O mesmo que aconteceu e nos afastou? Ou simplesmente... ‘acho que ele ali não me viu ou que talvez agisse como o homem que sempre achei que ele foi. E nunca um covarde’ – e agora eles estavam ali, mais uma vez frente a frente, haviam vividos tantas coisas desde aquele ultimo encontro, idéias diferentes, o álcool que ainda era ingerido, mas não saia mais da mesma forma, mas sim em formas de gargalhadas e palavras desconexas. Mas o sorriso...bem, ali ainda era o mesmo, em ambos. Existia ainda claramente o ar adolescente de rir de qualquer coisa. Mais uma vez estavam juntos e os dois sabiam que uma segunda chance é privilégio para poucos. Se abraçaram, se beijaram, se excitaram, perceberam que a química ainda funcionava perfeitamente entre ambos. Ficaram assim por um bom tempo. Deitaram na cama, ela de costas pra ele, mas bem juntos e abraçados ainda. As pernas que se multiplicaram, mas mesmo assim ocupavam o espaço de duas.
Os abraços não eram fortes, assim como o sentido já não respondia corretamente a coisas lógicas e aceitáveis. Ficaram assim até perder totalmente o juízo. E dormiram.